quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Frantz Fanon
 
(1925-1961)




Apesar de ser recente a relação que estabeleci com a obra de Frantz Fanon, meu apego a ela merece ser relatado. Sua escrita poética e intelectualidade, atrelada com sua prática combativa e revolucionária me inspiram tanto nos estudos acerca das questões relacionadas às bases psicosocioculturais, assim como na militância política. Seu temperamento relatado por seu irmão como “zangado por dentro e por fora”, é aparente em seus textos que não só constatam a opressão, mas também a combate e denuncia com veemência. 
 
A obra que mais tive contato foi “Pele Negras Máscaras Brancas”. Neste livro o autor analisa as consequências psicológicas geradas pela colonização. O texto foi escrito quando Fanon possuía apenas vinte e cinco anos de idade e foi a prelo aos seus vinte e sete. A obra, primeiramente produzida como tese de doutorado em psiquiatria, foi recusada pela comissão julgadora, que esperava uma abordagem mais “positivista” com análise de dados. Apesar da avaliação negativa da comissão, Fanon não deixou de publicá-lo e hoje é quase natural que ao estudar as relações de opressão e seus impactos psicológicos, ao menos uma breve análise deste texto seja feita.
 
Frantz Fanon é conhecido por sua interdisciplinariedade e atuação nas mais diversas áreas do saber e da prática. Revolucionário, psiquiatra, filósofo e estudioso das diásporas Africanas são algumas das classificações que podemos atribuir a este autor inclassificável. Foi um homem extremamente carismático, nascido na Ilha da Martinica em 20 de julho de 1925, estudou psiquiatria e filosofia na frança e após a conclusão dos estudos foi trabalhar no Departamento de Psiquiatria do Hospital Blida-Joinville na Argélia (hoje renomeado como Hospital Frantz Fanon). Apesar de ter se tornado uma referência do mundo acadêmico, Fanon, após se mudar para a Argélia, se engajou na Frente de Libertação Nacional da Argélia, e passou o resto de sua vida como militante e revolucionário.
“Todo o resto de sua vida foi dedicado a esta batalha, enfatizando na luta para transformar as vidas dos condenados pelas instituições coloniais e racistas...”(GORDON, Lewis. Prefácio. In: FANON, Frantz. “Pele Negras Máscaras Brancas”. Salvador-BA: EDUFBA, p. 12, 2008)


O comprometimento de Fanon com a luta me inspira imensamente. Apesar de toda sua formação, a mudança social ainda se encontra acima de tudo. A mudança e o dinamismo intenso de uma mente dotada de grande agilidade, é perceptível em sua escrita que:

“...usa vários tipos de linguagem, uma narrativa fortemente conceitualizada que lança mão de terminologias eruditas em latim, inglês e alemão, de terminologias médico- científicas, convoca conceitos enigmáticos da teoria da essência de Hegel, utilizando ao mesmo tempo o palavreado do argot, a gíria francesa, e dos regionalismos crioulos das Antilhas e do Senegal.”(GORDON, Lewis. Prefácio. In: FANON, Frantz. “Pele Negras Máscaras Brancas”. Salvador-BA: EDUFBA, p. 7, 2008)

A escrita de Fanon, que foge do convencional, é inspiradora para repensar formas textuais. O autor lança mão de frases de impacto que somente são desmiuçadas após três ou quatro páginas de texto. Desta forma, o autor gera interatividade e constrói aos poucos uma grande rede de ideias e conceitos. Além da disposição, as vezes caótica da construção de cada capítulo, a elaboração geral do trabalho também é disposta de forma não convencional. Os capítulos se embaralham, apesar de Gordon comentar uma necessidade de reestruturação do texto, eu penso que esta falta de estrutura linear um toque dinâmico, positivo e inspirador.

A minha relação com autor é, portanto, de admiração e inspiração. Refleti ao ter contato com sua obra acerca das mais diversas questões, desde a construção textual até as questões psicossocioculturais e políticas. Apesar de eu ainda não possuir um aprofundamento na leitura das obras de Fanon, pretendo continuar esta relação de pesquisa e investigação. A troca estabelecida e o encontro de ideias acontecem de maneira fluída. Considero Frantz Fanon um grande escritor e revolucionário inspirador. 

 Victor André Martins de Miranda


 

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