(1925-1961)
Apesar
de
ser
recente a
relação
que estabeleci com a obra de Frantz
Fanon,
meu apego a
ela merece
ser relatado.
Sua escrita
poética e intelectualidade, atrelada
com sua prática combativa e revolucionária me
inspiram tanto nos estudos acerca das questões relacionadas às
bases psicosocioculturais, assim como na militância política. Seu
temperamento relatado por seu irmão como “zangado por dentro e por
fora”, é aparente em seus textos que não só constatam a
opressão, mas também a combate e
denuncia com
veemência.
A
obra que mais tive contato foi “Pele Negras Máscaras Brancas”.
Neste livro o autor analisa as consequências psicológicas geradas
pela colonização. O texto foi escrito quando Fanon possuía
apenas vinte
e cinco anos de idade e foi a prelo aos seus vinte e sete. A obra,
primeiramente produzida como tese de doutorado em psiquiatria, foi
recusada
pela comissão julgadora, que esperava uma abordagem
mais “positivista” com análise de dados. Apesar
da avaliação negativa da comissão, Fanon não deixou de publicá-lo
e hoje é
quase natural que
ao estudar
as relações de opressão e seus impactos psicológicos, ao
menos
uma
breve
análise deste texto seja
feita.
Frantz
Fanon é conhecido por sua interdisciplinariedade e atuação nas
mais diversas áreas do saber e da prática. Revolucionário,
psiquiatra, filósofo e estudioso das diásporas Africanas são
algumas das classificações que podemos atribuir a este autor
inclassificável. Foi um homem extremamente carismático, nascido na
Ilha da Martinica em 20 de julho de 1925, estudou psiquiatria e
filosofia na frança e após a conclusão dos estudos foi trabalhar
no Departamento de Psiquiatria do Hospital Blida-Joinville na Argélia
(hoje renomeado como Hospital Frantz Fanon). Apesar de ter se tornado
uma referência do mundo acadêmico, Fanon, após se mudar para a
Argélia, se engajou na Frente de Libertação Nacional da Argélia,
e passou o resto de sua vida como militante e revolucionário.
“Todo
o resto de sua vida foi dedicado a esta batalha, enfatizando na luta
para transformar as vidas dos condenados pelas instituições
coloniais e racistas...”(GORDON,
Lewis. Prefácio. In: FANON, Frantz. “Pele Negras Máscaras
Brancas”. Salvador-BA: EDUFBA, p.
12, 2008)
O
comprometimento de
Fanon com a luta
me inspira imensamente. Apesar de toda sua formação, a mudança
social ainda se encontra acima de tudo. A mudança e o dinamismo
intenso de uma mente dotada de grande agilidade, é perceptível em
sua escrita que:
“...usa
vários tipos de linguagem, uma narrativa fortemente conceitualizada
que lança mão de terminologias eruditas em latim, inglês e
alemão, de terminologias médico- científicas, convoca conceitos
enigmáticos da teoria da essência de Hegel, utilizando ao mesmo
tempo o palavreado do argot, a gíria francesa, e dos regionalismos
crioulos das Antilhas e do Senegal.”(GORDON,
Lewis. Prefácio. In: FANON, Frantz. “Pele Negras Máscaras
Brancas”. Salvador-BA: EDUFBA, p.
7, 2008)
A
escrita de Fanon, que foge do convencional, é inspiradora para
repensar formas textuais. O autor lança mão de frases de impacto
que somente são desmiuçadas após três ou quatro páginas de
texto. Desta forma, o autor gera interatividade e constrói aos
poucos uma grande rede de ideias e conceitos. Além da disposição,
as vezes caótica da construção de cada capítulo, a elaboração
geral do trabalho também é disposta de forma não convencional.
Os capítulos se embaralham, apesar de Gordon
comentar uma necessidade de reestruturação do texto, eu penso que
esta
falta de estrutura linear dá
um toque dinâmico, positivo e inspirador.
A
minha relação com autor é,
portanto, de admiração e inspiração. Refleti ao ter
contato com sua obra acerca das mais diversas questões, desde a
construção textual até as questões psicossocioculturais e
políticas. Apesar de eu ainda não possuir um
aprofundamento na leitura das obras de Fanon,
pretendo continuar esta
relação de pesquisa e
investigação. A troca
estabelecida e
o encontro de ideias acontecem
de maneira fluída.
Considero
Frantz Fanon um
grande escritor e revolucionário inspirador.
Victor André Martins de Miranda
Victor André Martins de Miranda
Nenhum comentário:
Postar um comentário